Maus tratos, xingamentos e abusos. Esta é a rotina de mulheres vítimas de violência doméstica em Boa Vista. Mudar uma realidade tão cruel é o objetivo da Patrulha Maria da Penha, que até maio deste ano atendeu 927 mulheres com medidas protetivas na capital. Em 2022, mais de 1.500 mulheres foram acompanhadas, de acordo com a Guarda Civil Municipal (GCM).
A Lei Maria da Penha tipifica a violência contra a mulher em cinco tipos: violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Uma das formas de afastar a vítima do agressor são as medidas protetivas. É importante destacar que no Brasil existem políticas para o enfrentamento da violência contra a mulher, e essas políticas trazem a garantia do atendimento integral e humanizado às vítimas.
Em Boa Vista não é diferente. A Patrulha Maria da Penha fiscaliza se as medidas protetivas estão sendo cumpridas e resguarda as vítimas. Para se ter uma ideia, em sete anos, mais de oito mil mulheres foram acompanhadas pela Guarda Civil Municipal. “A mulher vai até uma delegacia de Polícia Civil, registra um boletim de ocorrência e solicita a medida protetiva. Essa medida vai para o Tribunal de Justiça e ele repassa para a patrulha”, contou a Guarda Civil Municipal, Jessyka Pereira.
Durante um mês, os guardas fazem visitas regulares e caso o agressor descumpra a medida protetiva, a vítima informa à GCM que aciona a justiça. “Este ano, foram efetuadas 25 prisões por descumprimento da lei. Por isso, cada mulher recebe um número exclusivo, para enviar áudios, vídeos, mensagens e ligações pedindo socorro. A equipe vai imediatamente ao local e pode informar ao Tribunal de Justiça quem precisa continuar com o acompanhamento por mais tempo”, explicou Jessyka Pereira.
Não era amor, era violência
A.F.B, de 23 anos, teve um relacionamento de um ano e dois meses. Neste período, ela sofreu violência psicológica e física. Em março, registrou um boletim de ocorrência contra o ex-namorado. Hoje, ela é uma das 50 mulheres acompanhadas diariamente pela Patrulha Maria da Penha, da Prefeitura de Boa Vista. A estudante, que passou por um relacionamento abusivo, viveu o ciclo da violência.
“Quando ele chegou na agressão física pela primeira vez, eu me senti culpada e tive dificuldade para me reconhecer como vítima. Depois, por meio da rede de apoio à mulher conheci meus direitos e comecei a acessá-los, para sair da situação de violência. O acompanhamento da Guarda Municipal faz toda a diferença nesse processo. Agora, eu quero incentivar outras mulheres a fazerem o mesmo e mostrar que é possível escrever uma nova história”, destacou a estudante.
O depoimento só confirma o que deveria ser óbvio: violência não é amor. Conhecer o ciclo da violência e como as mulheres vivenciam essas fases nas relações afetivas é fundamental para fazer abordagens adequadas no cotidiano de trabalho.
O ciclo da violência ocorre em três fases: a primeira é a da tensão, quando começam os momentos de raiva, insultos e ameaças, deixando o relacionamento instável. A segunda é a da agressão, quando o agressor se descontrola e explode violentamente. A terceira é a fase da lua de mel, o agressor pede perdão e tenta mostrar arrependimento, prometendo mudar suas ações. Ele fica carinhoso e atencioso, fazendo com que a mulher acredite que ele mudou.
Esse ciclo se repete, diminuindo o tempo entre as agressões e se torna sempre mais violento. Logo, a mulher precisa de ajuda. Como aconteceu com a A.F.B. “Eu acreditava que ele ia mudar, porque a gente tem fé que a pessoa que a gente ama vai mudar, mas não muda. Eles pioram cada vez mais. Não é fácil romper um relacionamento com laços afetivos fortes, mas é possível”, disse.
Como ajudar alguém que é vítima de violência doméstica?
A orientação para mulheres vítimas de violência doméstica é sempre procurar ajuda. Deve registrar boletim de ocorrência na Polícia Civil e ligar para a GCM no 4009-9355. Após a análise do caso, é determinada a medida protetiva por meio da justiça e a vítima passará a ser assistida pela Patrulha Maria da Penha.